Todos os pais querem criar os filhos com uma relação de confiança. Queremos que eles confiem em nós e queremos confiar neles, não é mesmo? Duvido algum pai ou mãe dizer que não. Afinal, os adultos sabem o quanto dói uma mentira. Mas será que estamos ensinando isso para os nossos filhos? Que atitudes estamos tomando para criar essa confiança?
Muitos pais pensam que isso vai acontecer naturalmente quando a criança for maior, ou quando for adolescente. Porém, pode ser tarde demais. Assim como tudo na vida, a criança aprende o que nós ensinamos desde cedo. Criança é gente desde a barriga, não vira uma chave, não. Por isso, é muito importante cosntruir a relação que você quer ter com seu filho no futuro.
Quando comento que as crianças entendem tudo, principalmente o tom de voz, muitos pais me perguntam “mas ela entende mesmo? Achei que fosse ensinar isso mais adiante”. E isso está relacionado a tudo: comer na mesa, dormir, avisar antes de sair de casa… A criança que só come na sala, na frente da TV, é um bom exemplo. Os pais avaliaram que a cadeirinha de comer seria um gasto desnecessário, afinal, quando tiver uns seis anos, ensinam o filho a comer na mesa. Vocês acham que essa criança vai comer na mesa quando tiver seis anos? Não vai. Possivelmente, será o adulto que come na frente da TV. Pois foi assim que aprendeu.
É claro que os pais precisam saber separar a mentira das questões relacionadas às fantasias infantis. Ser sincero e falar a verdade não significa acabar com a magia da infância. A fantasia é super importante e também precisa ser acolhida. Acreditar em Coelhinho da Páscoa não é mentir, ok? É do outro extremo que me refiro.
Mas voltando à questão da mentira, quando saímos de casa escondidos para nossos filhos não chorarem, ou não falamos para eles o que está acontecendo, não transmitimos confiança. Alguns pais e mães falam que depois de se comportar a criança irá ganhar algo, ou irão a tal lugar, e não cumprem. Vocês sabem a real mensagem dessas atitudes?
Quando os pais saem escondidos, a criança, em um primeiro momento, pode passar a seguir os pais em todos os cantos da casa com medo de perdê-los de vista. Afinal, os pais somem. Como babá, presenciei muitos momentos como esse. Mas só eu presenciava o momento no qual a criança percebe que os pais foram embora e vai chorar na porta. E mais tarde? Como esses pais vão cobrar do adolescente que saiu escondido? Que mentiu pra onde iria? É possível cobrar algo que não foi ensinado? E como fica a criança que foi enganada, que prometeram e não cumpriram?
Por isso, é fundamental falar sempre a verdade, por mais que ela doa. Pense que aquilo que você está fazendo hoje terá consequências no futuro. E aí? As consequências serão positivas? Você ficou tranquilo ou preocupado ao pensar nisso? É preciso refletir sobre isso, pois é agora que estamos formando a base para a vida toda.
Betina Haubrich é psicóloga graduada pela Universidade Feevale e consultora do sono materno e infantil formada pela Maternity & Parenting Institute, da Califórnia (EUA), e pelo Instituto Mãe, de São Paulo.
